segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Vá aonde seu coração levar

 



Opicina, 16 de novembro de 1992

Já se passaram dois meses desde a sua partida. E, nesse tempo, exceto por um cartão-postal onde dizia apenas estar viva, não tive mais notícias suas. Esta manhã, no jardim, fiquei um bom tempo diante da sua rosa. Apesar de ainda ser outono, ela se destaca — púrpura, solitária e orgulhosa — sobre o resto da vegetação já adormecida. Você se lembra de quando a plantamos?

Você tinha dez anos e acabara de ler O Pequeno Príncipe. Dei-lhe o livro como prêmio por ter passado de ano na escola. Você ficou encantada com a história. De todos os personagens, seus preferidos eram a rosa e a raposa; não gostou dos baobás, da serpente, do aviador, nem daqueles homens vazios e presunçosos que viviam em seus minúsculos planetas. Certa manhã, enquanto tomávamos café, você disse: “Quero uma rosa.” Quando argumentei que já tínhamos muitas, você respondeu: “Quero uma só para mim. Quero cuidar dela, vê-la crescer.” Claro que, além da rosa, você também queria uma raposa. Com a astúcia das crianças, colocou o desejo simples à frente do quase impossível. Como eu poderia negar a você a raposa, depois de lhe dar a rosa? Discutimos longamente sobre isso. No fim, optamos por um cachorro.

Na véspera de irmos buscá-lo, você não conseguiu dormir. A cada meia hora, batia à minha porta e dizia: “Não consigo pegar no sono.” Às sete da manhã já havia tomado café, se lavado e vestido, e esperava por mim sentado na poltrona, de casaco. Às oito e meia, já estávamos diante do portão do canil — ainda fechado. Olhando pelas grades, você perguntou:

“Como vou saber qual é o meu?”
Havia uma ansiedade contida em sua voz.
Eu te tranquilizei: “Não se preocupe. Lembre-se de como o Pequeno Príncipe cativou a raposa.”

Voltamos ao canil por três dias seguidos. Havia mais de duzentos cães, e você queria ver todos. Parava diante de cada jaula, imóvel, em uma aparente indiferença. Enquanto isso, os cachorros se lançavam contra a cerca, latiam, pulavam, tentando com as patas derrubar as grades. O atendente nos acompanhava. Achando que você era como qualquer outra criança, tentava seduzi-la mostrando os cães mais bonitos:
“Veja aquele cocker”, dizia ele. Ou: “O que acha daquela lassie?”
Você respondia apenas com um resmungo e seguia adiante, sem lhe dar atenção.

Encontramos o Buck no terceiro dia dessa via-crúcis. Ele estava em uma das baias dos fundos, onde ficavam os cães convalescentes.

Quando nos aproximamos, ao contrário dos outros, ele não correu até a grade — permaneceu sentado, sem sequer levantar a cabeça.
“É aquele”, você disse, apontando com o dedo. “Quero aquele ali.”
Você se lembra do rosto surpreso do atendente? Ele não conseguia entender como você havia escolhido aquele cachorrinho feio.
Buck era pequeno, mas trazia, em sua pequenez, traços de quase todas as raças do mundo: cabeça de lobo, orelhas caídas e macias de cão de caça, pernas finas como as de um bassê, cauda espessa como a de uma raposa, e a pelagem negra e castanha de um doberman.

No escritório, enquanto assinávamos os papéis, a funcionária nos contou sua história: ele havia sido jogado para fora de um carro em alta velocidade no início do verão. Feriu-se gravemente na queda, e uma de suas patas traseiras ficou pendendo, como morta.

Buck está aqui ao meu lado agora. Enquanto escrevo, ele suspira de tempos em tempos e encosta o focinho em minha perna. O pelo do focinho e das orelhas já está quase todo branco e, há algum tempo, a névoa típica dos cães velhos cobriu seus olhos. Comovo-me ao olhar para ele. É como se houvesse uma parte de você aqui ao meu lado — a parte que mais amo: aquela menina que, entre duzentos cães, soube escolher o mais frágil e o mais feio.

Nestes últimos meses, na solidão desta casa, os anos de incompreensão e desentendimento entre nós parecem ter se dissipado. As memórias que me rodeiam são as da sua infância — um filhote perdido e vulnerável. É a ela que escrevo, não à pessoa distante e defensiva que você se tornou. Foi a rosa quem me sugeriu isso. Quando passei por ela esta manhã, ela me disse: “Pegue um pouco de papel e escreva para ela.”

Sei que, entre os nossos acordos na sua partida, estava o de que não nos escreveríamos. E, com relutância, respeito isso. Estas linhas nunca voarão até você na América. Se eu já tiver partido quando você voltar, elas estarão aqui, esperando. Por que te digo isso? Porque, há menos de um mês, pela primeira vez na vida, adoeci gravemente.

Agora sei que, entre todas as possibilidades, existe também esta: em seis ou sete meses, talvez eu já não esteja mais aqui para abrir-lhe a porta, para te abraçar. Um amigo me disse, certa vez, que nas pessoas que nunca tiveram nada, a doença, quando chega, se manifesta de forma súbita e violenta. Foi exatamente o que me aconteceu. Uma manhã, enquanto regava a rosa, alguém apagou a luz. Se a esposa do senhor Razman não tivesse me visto através da cerca que separa nossos jardins, você provavelmente já seria órfã.

Órfã? Usa-se essa palavra quando uma avó morre? Não tenho certeza. Talvez os avós sejam considerados tão secundários que nem mereçam um termo que nomeie essa perda. Não se é órfão nem viúvo de avós. Pela ordem natural, eles ficam pelo caminho — assim como, por distração, se deixam guarda-chuvas esquecidos na estrada.

*Opicina é uma cidade no nordeste da Itália, perto da fronteira com a Eslovênia.